Hoje choveu e, se minha avó Maria estivesse por aqui, ela faria aniversário.
Resolvi então, eu que ainda aqui estou, escrever algo pra celebrar a memória dessa maravilhosa Contadora de Histórias, que encheu a minha vida de fantasia e encantamento, de medo e de alegria, de flores e de animais; de vida enfim!
Uma porção de coisas
_Vó, lembra de quando o quintal de casa, aquele onde a senhora tinha a horta e o galinheiro, encheu d’água quando deu aquele temporal?
_Eu lembro.
_Lembro da senhora amarrando a saia bem pra cima, e entrando no lago de lama que aquilo virou, pra ver se não tinha entupido o cano por onde a água escoava...
_Eu tinha certeza que a senhora ia dar um jeito, e nem ia ficar machucada. Fiquei com pena das alfaces, da abóbora, da cebolinha...tudo morrendo afogada, coitadas...
_Fiquei com medo dos relâmpagos. Aqueles que, a senhora me ensinou, caem bem no meio do cucurutu e a gente morre...já viu, né? Ia virar um pedacinho de carvão, torradinha. [Coitada da vó].
_Vixe, deixa eu tirar essas coisas de minha cabeça; num presta pensar coisa ruim!
[Êita, lá vai a vó lá no fundão do quintal, pra cutucar o cano com o pedaço de pau que ela pegou pra servir de bengala e que segura a corajosa no chão do lago. Minha vó é bem corajosa, num é mesmo?]
_Já pensou se aparece cobra? Ai meu Deus do céu...e se for aquela que a senhora me contou que mora no rio do interior e veio aqui visitar os parente no lago de lama?
_Já sei vó: bate nela com o pedaço de pau. Ela vai ficar zonza e o aguaceiro leva embora. Viu como eu aprendi, vó?
_É vó, ta na hora de entrar pra casa. Tomar banho quente e café também. Depois preparar a janta. Todo mundo tem que comer.
_Eu já sei uma porção de coisas. Foi a senhora que me ensinou.
_Brigada vó!
Pra minha vó Maria, que foi viajar e ainda conta histórias na eternidade, eu sei.